quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Cinemas onde Vi Filmes: Animatógrafo do Rossio ou

o Arco Bandeira



Fui lá algumas vezes, não muitas, porque estava sempre cheio, nunca nos referíamos ao cinema como Animatógrafo, para nós era o Arco Bandeira, a sala era (e deve ser) muito pequena, teria aí uns 100 lugares mais coisa menos coisa e muitas vezes fiquei em pé encostado á parede do fundo. Creio que o último filme que vi nesta sala foi o Hércules contra Maciste (ou qualquer coisa do género). Era um bocado mal frequentado ou talvez nós notássemos mais os "pintas", que por lá apareciam, por a sala ser muito pequena.

«Inaugurado em 1907, foi a primeira sala de cinema com expressão arquitectónica qualificada dentro da chamada Arte Nova curvilínea, característica da escola Franco-Belga de Horta e Guimard.» Foto posterior a 1907. José Artur Leitão Bárcia. 


Páginas sobre o Cinema Animatógrafo do Rossio da autoria de M. Félix Ribeiro 
em OS MAIS ANTIGOS CINEMAS DE LISBOA, edição da Cinemateca, 1978.


Animatógrafo do Rossio, 197? Armando Serôdio. 


 Animatógrafo do Rossio, 1961. Artur Goulart.



Mil contos num só dia (com o peep show)

«Paulo Ladeira não quer falar de dinheiro. Começou neste ramo em 1990, findos  três anos entre a Bélgica e a Holanda, países onde, garante, o nível de desenvolvimento deste negócio é muito superior. «As mentalidades belga e holandesa estão mais aptas a aceitá-lo como o que é: um mero comércio», diz. O empresário regressou a Portugal para abrir o primeiro peep show lisboeta e ainda hoje é dos mais  frequentados da cidade. «Era até preciso explicar aos funcionários públicos o significado do termo sex shop», afirma o «pai» da Sexylândia, que funciona no antigo Animatógrafo, ao Rossio. Foi um espaço montado (e ainda funciona) com algum amadorismo: parte das  cabinas são transparentes, o que faz com que, além do corpo da modelo, os clientes tenham de suportar também os esgares uns dos outros; os veludos vermelhos foram mal fixados e precisam de uma boa lavagem; e ao chão e às paredes das cabinas dos vídeos pornográficos um pouco mais  de detergente também não fazia mal. Mas, nos bons tempos, admite este ex-emigrante e electrotécnico de formação, numa sexta-feira concorrida, aquela loja apertada e mal iluminada facturava 1200 contos. Na altura, era mais do que suficiente para pagar uma renda que chegava aos 4 mil contos e o enorme fornecimento de toalhetes de papel com que as máquinas de cada cabina são diariamente fornecidas.»

Texto de João Dias Miguel numa 
reportagem chamada: Os  dias  do $exo
em Visão 6 de Dezembro de 1999 



Espreitar por dois euros (em 2005)

A voz off, com o tom de um feirante a vender pares de meias, ecoa pelo Animatógrafo do Rossio, em Lisboa. «Não perca Clara e a sua sensualidade erótica. Por dois euros, não se vai arrepender. Dois euros, somente dois euros.» O locutor de serviço encontra-se rodeado de cassetes e DVD’s pornográficos, mas é à sua frente que está a razão de ser do Animatógrafo. Uma nave central redonda, onde 20 portas dão acesso ao mesmo sítio – e, simultaneamente, a 20 cubículos iguais. Um metro quadrado escuro, com uma janela virada para o palco, toalhetes de papel por cima do vidro, uma ranhura para moedas por baixo, um caixote do lixo num canto, um cinzeiro na parede. Clara entra nesse momento e começa por pousar, na plataforma giratória, um pedaço de cetim que lhe vai servir de lençol durante os minutos seguintes. Deita-se de lado, vestida apenas com um curto negligée calçada com sapatos de salto alto, e atenta às luzes vermelhas por cima de alguns compartimentos, que lhe mostram os que estão ocupados por clientes. Começa o peep-show. O corpo mexe-se sem grande ritmo, quase a ignorar a música. A boca trauteia a canção. Os olhos deambulam pelo espaço, enfastiados. As posições alternam: deita-se de costas, senta-se, põe-se de cócoras. Toca-se ao de leve com os dedos. Pisca o olho e passa a língua pelos lábios, mecanicamente, na direcção das janelas ocupadas – algumas não são espelhadas e os clientes podem mesmo ver os sorrisos e esgares uns dos outros. Dois euros compraram três minutos da loira Clara. A meio da segunda moeda, entra Linda. É morena, mais nova, muito diferente. Mas estranhamente igual.  

Texto de Luís Ribeiro numa reportagem 
chamada: NO REINO DO S€XO
em Visão 30 de Junho de 2005 

Animatógrafo do Rossio. A fauna nocturna em 1966. Garcia Nunes.


 Animatógrafo do Rossio, 2009.


Fachada do Animatógrafo do Rossio, 2002.


(Fotos do Arquivo Fotográfico da CML) 

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